domingo, 20 de junho de 2010

O tempo que falta, mas não faz falta

Estranho é não ter tempo para nada e ter tempo só para dois ou três e estar mal cabendo em si de sorrisos. Sem tempo para escrever, sem tempo para a TV, sem tempo para sentir-se inconfortável com os comentários do pai, sem tempo para os filmes com a família na noite de domingo. Todo esse tempo é ocupado pelo telefone, pelos livros ou pelos beijos e abraços. Sendo o primeiro e os últimos um só responsável e o segundo uma obrigação necessária, mas não mais tão desagradável.
Minhas crises comigo mesma sem sentido nenhum aumentam a freqüência e eu fico feliz por isso. Talvez seja um sinal de que eu voltei a sentir o que estava guardado no baú dos temores. Mas fico triste também, não gosto das minhas crises e não sinto saudades dos meus tempos inseguros.
Eu sei que vai passar, sempre passa. Desde que permaneçam as saudades precoces, os arrepios, os sorrisos e os ciúmes. Quem liga quando paramos, eu e ele, ele e eu, no meio da padaria, ou da farmácia, ou da livraria e nos abraçamos como aqueles casais que acabaram de se conhecer. Não, nós não acabamos de nos conhecer e temos um passado que se opõe a tudo que acontece agora. Seria inimaginável, mas está cada vez mais real e agradável.
Na minha vida de pré-vestibulanda as coisas parecem caminhar bem. Acho que tenho andado por aí esse ano com amuletos da sorte, tamanha é essa boa fase que já vem durando uns meses.
Se tenho medo de que me vire e acabe num segundo? Sim, por que não? Já disse antes que é isso que torna tudo mais divertido.
Creio que preciso aperfeiçoar minha coragem de ser menos legal, porque talvez eu não seja tão legal assim. Mas acho que estou conseguindo contornar isso bem. Que eu diga atrasada, mas diga. E quando eu não digo, ou não faço, ou pareço indiferente ou irritada, não estou. Meu silêncio ou minha cara feia não diminuem o que sinto. Talvez seja uma tentativa burra da minha razão de afastar sei-lá-o-que.
Não sinto mais falta do meu tempo, estou começando a achar divertido o tempo que tenho que não é só meu. Sendo meu e dos meus pais, meu e dos meus amigos, meu e daquele com quem gasto horas no telefone, está tudo bem. É um bom momento, devo admitir.