terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tão simples e tão complicado

Muitos arriscam, poucos petiscam. Falar de amor é uma coisa definitivamente complicada, mas não custa tentar.
Admito que fugi desse tema como o diabo foge da cruz, mas há tempos que frases soltas sobre isso vêm surgindo nos momentos mais variados - na aula de química, na casa da tia, no caminho para casa e antes de dormir. Não resisti e resolvi vencer o medo que tenho dessa palavra tão pequena, perversa, complicada, confusa e cheia de significado.
Confesso que meu medo de falar de amor vem das más experiências que tive com ele. Vale lembrar que o amor nem sempre é “uma dor que arde sem se ver”. Muitas vezes a gente vê e sente uma dor lá dentro, bem lá no fundo. Principalmente quando o amor não é correspondido, ou pior, é mentiroso, fingido e inimigo.
De acordo com aquele dicionário velho e empoeirado que eu fiz questão de tirar da estante (não, eu não olhei na internet), amor é afeto, paixão, entusiasmo.
Se amor é paixão, não é somente afeto, mas afeto violento, sentimento excessivo e cólera; se paixão é cólera e amor é paixão, amor também é agitação, raiva e arrebatamento. Arrebatamento! Excitação, furor súbito, precipitação, enlevo, êxtase.
Será mesmo que o frio na barriga, o arrepio atrás da nuca, o sorriso no canto da boca e o coração pulsando forte com um simples entrelaçar de dedos, braços ou línguas é simplesmente um estado de êxtase?
Se olharmos de rabo de olho o que os cientistas falam, veremos que o amor nada mais é que um conjunto de fenômenos cerebrais, ações de hormônios, sensações de prazer e memórias que associadas à alguém, gera o tal arrebatamento e as borboletas no estômago.
Pensar assim é no mínimo estranho, uma vez que, se o cérebro é nosso, a lógica é que nós tivéssemos o controle sobre ele, certo? Errado!
Você escolhe quem ama? Se acredita que sim, por que você ainda insiste em agüentar aquele cara mala, possessivo, ciumento e arrogante? Ah, claro, você não sabe. Eu sei e te digo: ele é o único que causa o êxtase. Então, quando ele te abraça forte, você esquece as grosserias e o papo chato dele e se entrega àquele bosta.
É, o amor é cego... surdo, mudo e burro. Ele corre de nós quando corremos atrás dele e nos atinge quando fugimos. Ele contamina, prostra e não dá a cura. Sim, ele é cruel; é harmônico, confuso e instável. Amor é instinto, é um beijo roubado num final de tarde, um sorriso no meio da multidão, um abraço apertado, uma noite sem dormir.
Quando tem cara de paixão, aperta, amarra, sufoca, enlouquece.
Quando tem cara de amizade, escuta, consola, perdoa, entende e não julga.
Amor pode respeitar ou não. Discorda? Se amor é instinto, ele não pensa ou fala, ele age. Pode iludir e doer, mas antes ele certamente dará aquele tempo bom, que não se limita, nunca.
Cabe lembrar que não há nada mais humano que o amor, ele é absurdamente errôneo e estúpido. Mas, há quem diga que amor é destino, prece e paz.
Se conhecemos e desejamos a paz, é porque temos o conhecimento da guerra. E sim, amor também é guerra. Uma infinita guerra verbal e parcial que geralmente não tem fim.
Amor é música, gosto e cheiro; é o sentir-se bem no silêncio; é largar o orgulho de lado e saber ceder; é equilíbrio, ou não.
E é por ser tão arriscado e impreciso que dá tanto medo. Mas em tudo que há desafio e desconhecido, há o desejo de tentar para alcançar.
Eu ainda tenho medo, cada vez maior, de me apaixonar; eu escuto mais a razão do que escutava há um ou dois anos atrás, mas estou nova demais para desistir do amor.
Se a esperança acaba, sobra o que? A juventude está se cansando fácil demais, temos que perder o medo do piegas, do clichê; cometer mais loucuras e arriscar mais. Virão lágrimas, elas são inevitáveis. Tudo passará e sobreviveremos, prometo!

“Amor é contentamento descontente; é dor que desatina sem doer; é estar-se preso por vontade; tão contrário a si é o mesmo amor.... Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.”

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não "super", mas pai

Em menos de um mês, recebi duas notícias semelhantes que, sem querer, colocaram meus neurônios para funcionar.
Há um pouco mais de uma semana, meu pai me diz que um amigo da nossa família tinha morrido no dia anterior. Ele tinha pouco mais de ciquenta anos e dois filhos: uma menina que faria 15 anos na semana seguinte e um filho de 18 anos.
Hoje, fui surpreendida com outra notícia do tipo. É o pai de uma colega muito querida de escola.
Fiquei pensando que ano passado também ocorreram coisas semelhantes não tão perto de mim e por isso, infelizmente, não pude ser tocada por tal situação.
Percebi enquanto voltava da escola conversando com o meu pai, que por mais que minhas brigas com ele fossem mais que frequentes, por mais que seus ideais sejam absolutamente radicais, por mais que ele seja muitas vezes arrogante, prepotente e estúpido comigo, eu prefiro chorar por ter tido a oportunidade de discutir com ele do que por não poder discutir nunca mais.
Soa clichê, certo? Mas estamos tão pouco acostumados a frases feitas quando o assunto é nossos pais, que isso se torna algo absolutamente novo.
Nós adolescentes temos a irritante mania de querer nos livrar dos pais o mais rápido possível, mas quando conseguimos isso, entramos aos prantos; pois não pense você que a garota dos quase quinze anos e o rapaz de dezoito não brigavam com o pai - e eles estavam em prantos.
Jovens são todos iguais, esse é o nosso problema. Quando um de nós resolve defender os pais, os outros julgam você estúpido. Sei exatamente como isso ocorre, sempre fui dessas que evita brigar com os pais - e ainda assim brigo muito. Meus amigos não entendem como posso aceitar as milhões de coisas que meu pai impõe. Felizmente ainda acredito que nada vale mais do que a quase boa convivência que temos; nada vale mais do que aqueles dias que tiramos para sair juntos, fazer compras, comer em um lugar bacana e fingir que somos namorados.
Falta para a nossa geração um pouco mais de gratidão, amor e disponibilidade para os nossos pais; falta mais dependência e menos arrogância.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Longe de casa

Achei o que eu procurava - e precisava. Um tempo só, eu e eu mesma, no meio do nada e sem distrações.
Não havia TV, nem internet, nem opções de passeios ou velhos conhecidos. Havia a piscina que eu não entrava, o sol que me incomodava, horários para comer, relaxar, dormir e acordar. Havia também tédio e um pequeno desconforto que passava rápido, pois os desconhecidos de lá são absurdamente simpáticos. Talvez eu que não estivesse muito interessada em colocar terceiros na minha relação comigo mesma que durou 5 longos dias.
Já de início a saudade começou a apertar. Senti falta do carinho da mãe, da implicância do pai, dos amigos de sempre, do urso campeão de debates, do Elvis Presley na parede e dos CD’s na estante.
Encontrava-me num quarto vazio e cheio de camas abarrotadas de roupas durante a tarde, a bateria do meu celular mal durava um dia inteiro e a coca-cola da cantina geralmente estava quente. Eu deveria ter fugido de lá, certo?
Mas não quis.
Foi difícil me esquivar, mas consegui ficar sozinha durante alguns momentos e valeu à pena. Meus pensamentos, meus sentimentos e minhas saudades que só aumentavam cada vez mais, me encararam e perguntaram o que eu faria com o “novo material” que eles me deram. Respondi jogando no papel uma vontade louca de chorar de saudade e de sorrir por não conseguir controlar isso.
Uns dias atrás, me perdi em um olhar e me preocupei por não conseguir evitar o sorriso que escapou sem querer e o calafrio que foi dos meus curtos cabelos até as minhas unhas sem esmalte do pé.
Usei os cinco longos dias praticamente na íntegra para pensar sobre isso, para permitir que parasse de tentar disfarçar.
Percebi que no meio do meu medo pelo monstro do Vestibular, das discussões com o pai e das idas na psicóloga, tem algo extremamente saudável que cresce cada dia mais aqui dentro. Acho que estou perdendo completamente as armas da razão.