sábado, 13 de novembro de 2010

Loja de departamentos

Estávamos no shopping. Em uma daquelas lojas de departamento, para ser mais exata. Esperávamos minha mãe terminar de fazer compras assentados na seção de sapatos. Eu com um mau humor típico de TPM e ele com tanto sono que me lembrava o Soneca.
Estávamos ali e só. Juntinhos, abraçadinhos. Ele com o nariz na minha nuca sugando todo o perfume que ali existia enquanto eu, com uma cara de bunda sem motivo, passava as unhas devagar no braço esquerdo dele. Na minha cabeça havia um vazio, na dele provavelmente não havia nada, pois devia estar quase cochilando.
Ele me contou uma versão de “Três porquinhos” que me fez rir. Contou uma versão pornô de “Chapeuzinho vermelho”. Me abraçou forte e disse que queria ficar juntinho. Disse que queria ficar juntinho para sempre. Disse que até a mãe dele acreditava que havia chances de que nosso casamento do qual ele tanto fala aconteceria. Disse que me amava.
Ele não via o meu rosto quando disse essas coisas pela posição em que nos encontrávamos. Mas eu acho que, pelo meu silêncio e por saber o quão bobona eu sou, ele percebeu que meus olhos estavam cheios de lágrimas.
Sim, eu fiquei tomada por aquelas coisas bobas que ele vive dizendo, mas que por motivo nenhum me deixaram com um buraco no peito, como daquelas vezes em que a emoção é tanta que você perde a fala. E ficamos ali, eu segurando o choro sem-sentido e ele rindo da minha cara. Ele me abraçando e eu escondendo o rosto.
Depois olhei para ele e ganhei fala para dizer que eu o amava. Ele me chamou de ridícula e perguntou por que eu tinha chorado. Aí eu percebi que era porque tudo que eu sonhava, tudo que eu queria e que duvidava que aconteceria, estava ali comigo. E não estava só naqueles dez minutos, mas tem estado por mais de seis meses. E o buraco era a minha agonia por ver que talvez eu perdi a razão de ter medo.
Eu repeti que o amava. Repeti meio apreensiva, mas sem medo. Naquela hora eu esqueci que tem muita coisa por aí que é mentira. Aquela hora passou a ser o que eu pretendo levar comigo toda vez que eu duvidar de alguém, mesmo sabendo que eu posso estar errada.
Como sempre, ele nunca permite que nossos momentos amáveis terminem amáveis. Seu comentário excessivamente masculino me fez rir e nós começamos a falar dos casos antigos dele. Nós disputamos o iogurte, fizemos bagunça, fizemos drama e nos despedimos.
Eu não sei se chorei pela TPM, mas sei que foi a primeira vez na vida que chorei por alguém sendo o motivo algo bom. Foi a primeira vez que chorei por ele sendo o motivo algo bom.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Peculiaridades (excessivas) do vestibular

Quando pensamos que tudo acabou, quando saímos exaustos depois de dois dias e 10 horas de prova e sorrimos aliviados, quando respiramos e nos preparamos para a nova fase, acontece aquilo que literalmente está para foder todo o processo. Diria que meu ano, meu último ano escolar, aquele que faz você engordar mil quilos ou ficar sem comer dias, aquele que te deixa sem dormir, desorientado e bitolado de tantas informações, pois é, logo o meu ano, o meu vestibular, teria que dar problema.
Com vendas nos olhos quanto ao que acontecerá, cabe aos pobres coitados dos estudantes arrancarem o resto dos cabelos e roerem o resto das unhas ou então desligar de tudo e tentarem ficar tranqüilos. Para o bem da minha família, do meu namorado e daqueles que convivem comigo todos os dias, optei pela aparente opção dois. No fundo, a um reina, mas o reflexo fica na minha ansiedade, na minha boca que não para de mastigar e nas minhas banhas que não param de aumentar. É, ossos do ofício.
Ainda assim, minha felicidade reina. Menor carga horária, mais tempo para os projetos paralelos e estudos direcionados para o que eu realmente gosto.
Nós estudantes, no Brasil, deveríamos ser menos acomodados e gritar aquilo que nos desrespeita. Porque o nosso presidente diz que serão feitos quantos ENEM’s forem precisos, então eu pergunto: o nosso presidente tem ciência do quanto é desgastante para nós fazer o ENEM?
Cabe a discussão, cabe o protesto e cabe dizer às autoridades responsáveis que injustiça é obrigar todos aqueles que fizeram a sua parte, que não querem refazer a prova a repeti-la por um erro que não cabe a esses estudantes. Isso sim é injustiça.

domingo, 24 de outubro de 2010

Mais um drama banal


Talvez nada pareça mais funcionar, pode ser que seja o cansaço, o estresse ou a falta de paciência frequente por aqueles mesmos motivos de sempre e que não vão mudar. O corpo responde, se cansa ainda mais, os músculos travam, olhos olhos se fecham...
Você sabe que vai passar, mas por que demora tanto? Vai e tenta se distrair. O filme fala com você, e enquanto seus pais soltam gargalhada da comedia romântica, você tem vontade de sumir. Não, melhor não. Vai procurar algo para ler. Os textos falam com você. Ok, não seja tão radical.
O tempo vai passando, e mais tarde o telefone fala com você. Mesmo que circunstâncias não estivessem agradando, você acha graça, mas só daquela vez.
Passou.
Acorda no dia seguinte, humor incrível, café da manhã reforçado, está só em casa e precisa estudar. Antes de tudo, lava o rosto com a música mais baranga que tem tocando no talo. Dança frenética, ajeita o quarto e decide só acalmar os ânimos para poder se afogar na matemática comercial e na geometria.
Quinze minutos, algumas letras digitadas e está pronta.
Passou...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A busca incansável pelo novo

No melhor estilo “Good times”, permaneci acordada até as três da manhã de sábado. Não me lembro ao certo qual foi a última vez que me transportei ao passado para contar detalhes. Foi delicioso, se quer saber. E o motivo de tamanha satisfação é ver que estou no lugar onde menos esperava estar, na verdade estou onde repugnava estar. Talvez nos meus desejos mais profundos, obscuros e secretos eu pensasse em algo próximo do que vivo hoje. Mas, contar para alguém? Jamais! Era o tipo da coisa que se tem vergonha de pronunciar em voz alta.

Ironias à parte, cá estou. Esperando pelo vestibular, sofrendo a ansiedade em cada micro pêlo do corpo. A falta de tempo sobra e transborda. Mas persisto, cheia de vontades e olhando para o futuro com sede dele de uma forma que nunca fiz.

Sinceramente, tenho feito somente o que nunca fiz. E tem sido bom.

Das próximas virão crônicas, contos ou algo que não fale de mim. Cansei, meu “eu” será expresso de outra maneira mais conveniente ao momento.

Continue na espera.

sábado, 18 de setembro de 2010

Contagem regressiva

O tempo está correndo demais, mas se fosse possível, talvez fosse melhor se ele corresse ainda mais nesses últimos momentos. Se querem saber, eu anseio pelo fim desse ciclo, rápido. Sei que há chances de que eu me arrependa disso mais tarde e sinta saudades. Eu sei, eu sei. Mas meu imediatismo fala consideravelmente mais alto agora. Penso que a causa disso seja o cansaço incalculável com o qual eu convivo todos os dias durante todo esse ano e principalmente agora, na reta final. “Eu quero férias!” – e de pensar que só as terei no final do mês de janeiro. Pois é, nada de estar de férias no natal e no ano novo.

Fui convencida a fazer o serviço direito só para não ter que repetir isso tudo de novo. Estou cheia de planos, cheia de vontades, cheia de idéias. Mas não tenho tempo para nada a não ser livros por agora. Triste? Aham, muito. Porém, segui o conselho da mamãe e passei a fazer mais e reclamar menos. Vale a tentativa para ver se tudo acaba mais rápido.

Estou afundando ainda mais a cabeça e colocando um ponto final. Sem vírgulas. Meio confusa, meio indecisa, mas convicta de que aguardo o fim. Quero meus novos projetos, quero mais do que me matar para receber um boletim limpinho no final do ano.

Pretendo fazer uns testes aqui no blog, à pedidos. Já estou sondando, pesquisando e investindo. Aguardem!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Efeito defeito

Descobri por esses dias uma sensação nova; carinhosamente batizei de “efeito do defeito”. Digo-lhes do que se trata: efeito do defeito é tudo de mais estúpido que aquele certo alguém faz, que não é nada sedutor ou charmoso e que te faz colocar a mão na testa, fazer cara de desacreditado por curtir aquilo, sorrir e pensar: "eu estou apaixonado, fudeu."

Desistam, não vou fugir do meu lugar comum atual. Vivo suspirando pelos cantos, arestas, ruas, mesas, cadeiras, privadas, camas, mesas e banhos. E mais abestalhada do que nunca, persistirei fielmente tentando convencer a todos a serem bocós também. Portanto, camaradas, estejam prontos para derreterem seus corações ou vomitarem.

Encontro-me num dia típico de pré-vestibulanda: dia inteiro na escola, sensação de sujeira da cabeça aos pés, almoço meia-boca, prova depois de aula e dever depois de sobremesa. Indigesto? Mais do que você imagina. Porém, como um vício frenético, essa telinha acoplada ao teclado gritou por mim e mesmo com os olhos cansados e o siso brotando dores curiosas, eu enfrentei mais leituras e letras. Admirem a força de vontade, vai!

Conclamo agora que venham comigo caso sejam adeptos do efeito defeito.

“Já passam das 23:30. Nós acabamos de desligar o telefone. Nos despedimos, como sempre. As mesmas palavras, o mesmo tom de voz. Por algum motivo eu parei para pensar no quando eu gosto disso, no quanto isso me conforta antes de dormir. Sempre que desligamos, eu me acoplo no cantinho da cama, dou um sorriso besta e acabo por dormir sem reparar. Tão bom e tão banal...

Eu fecho os olhos e penso em futuros, penso em sacanagens, penso em romances bobos e mãos dadas. Eu acordo no dia seguinte e ligo para te acordar. Escuto uns resmungos, digo que te amo. Outro sorriso besta. Pergunto-me a que ponto chega a estupidez de um ser humano apaixonado. (me dou conta, agora, enquanto escrevo, que mais ridículo do que isso não fica.)

Ficamos meio asnos, mas ainda acredito ser um playground para o coraçãozinho.

Assisto aula, vou para casa, almoço e hoje é sexta-feira(!). Uma pestana, umas lidas aqui e acolá, banho, dez peças de roupa jogadas sobre a cama. Depois de uma longuíssima (nossa!) semana, eu vou matar as saudades.

Eu gosto do seu abraço, gosto das suas orelhas e do seu pescoço. Gosto da sua falta de jeito quando derruba as coisas, gosto da suas tentativas de me agradar e acho graça da sua chatice que você nem controla porque não percebe. Eu gosto de você. Gosto mesmo.

Não gosto de despedidas, mesmo você me ligando 30 segundos depois para conversamos enquanto você anda até em casa.

Fui dormir e chorei. Chorei de problemática que eu sou. Chorei porque caiu a ficha do meu estado débil-apaixonada. Chorei porque quero ter seu abraço a hora que eu bem entender. Chorei porque não ligo para os possíveis ônus. Chorei porque achei bonitinho a bagunça que você fez para comer. Sorri porque reparei: efeito defeito.”

domingo, 15 de agosto de 2010

Motivos

Peço desculpas desde já pelo prolongado tempo sem escrever por aqui. De início também já adianto que os assuntos são muitos; não pelo tempo, não pela novidade, mas sempre pelas mil e uma coisas que borbulham quando eu escrevo. E escrever, agora, me lembra algo meio nostálgico, visto que no último mês retrocedi uns dois anos e meio, tempo este que eu desconhecia o desabafo escrito e sábio e geralmente optava pelo diálogo, que às vezes é prematuro demais para ser dito. Admito exatamente neste momento que (re)aprendi o quão sou inevitavelmente dependente das letras combinadas para que as engrenagens do cérebro e do coração funcionem juntas em devida sintonia e de forma propícia, sábia, calma e com tal especialidade que com freqüência está presente, mas que nas últimas semanas esteve ausente.

Seria mais prático que enumerasse o que tenho a dizer. Porém, não é de praxe meu ser direta, óbvia e pouco confusa frente aos cotidianos simples. Justamente e unicamente por esse motivo, eu e o meu dom com genética de defeito, deixaremos as coisas as mais complicadas possíveis.

De introdução, digo que a trilha sonora que toca no momento, ecoando dos fones para dentro de cada uma das minhas células, trata de amor. Desde o amor-fossa até o amor-sujo. Dos podres aos bons, permaneço eu e minhas músicas.

Escutamos de amor para falar de amor, ou algo semelhante a ele. Anteriormente já me perdi em dicionários e “googladas” na minha tentativa de descrever o que eu continuo crer ser indescritível. Sem fugir do clichê, sim. Falemos então do que o coração está cheio.

Com estatísticas aproximadas, pois exatidão não é o meu forte, afirmo com franqueza que pensei cerca de 5 vezes em fugir de casa e do mundo; chorei de 15 a 20 vezes por motivos tolos e não tolos; senti desespero por falta de tempo de 8 a 10 vezes; pensei em finais possíveis para a vida todos os dias antes de dormir; senti que estava apaixonada pelo menos uma vez ao dia; quis matar alguém umas 3 vezes; quis me matar 2 vezes; apelei para Deus em um quinto das vezes que chorei; senti saudades absurdas 7 vezes; senti saudades aceitáveis de uma a duas vezes na semana; quis parar o tempo umas 3 vezes; quis passar o tempo 2 vezes;nunca na vida usei tanto o telefone; nunca na vida tive tanta dificuldade para discorrer um texto; nunca na vida me senti tão feliz com um simples gesto; nunca na vida havia invertido meu humor num prazo de 5 minutos como fiz. Dados estes referentes ao último mês.

E desses e de muitos outros dados, concluo que definitivamente voltei a sentir os arrepios, a raiva, os ciúmes, o coração pular pela boca, os olhos com vontade de encher-se d’água... me entreguei novamente àquilo que eu conseguira esconder tão bem durante um ano. Entretanto, permaneço num vai e vem constante de interrogações e exclamações de fontes diferentes que afirmam e perguntam se vale à pena. No momento penso que sim, mesmo que as palavras aqui escritas acompanhem mais algumas gotículas lacrimais sem ou com sentido.

Se voltei a ser impulsiva e sentimental, digo que passei a ser chorona. Não me lembro de ser chorona... talvez uma vontade, um aperto no meio do meio do coração... mas as lágrimas não costumavam cair com facilidade. Pois bem, agora elas caem e são incontroláveis. Uma merda, não? Encontro-me aqui, numa contradição ambulante que de um lado diz detestar sentimentalismos baratos e do outro lado... bem, do outro lado há alguém totalmente perdida e desconfiada, mas inexplicavelmente apta a arriscar a cabeça em nome de um abraço apertado e aconchegante.

Chegando nesse ponto crucial, lembro-me com facilidade do porque continuo e persisto. Tem nome próprio, às vezes não presta, ás vezes irrita, ás vezes fala o que não deve. Nada que eu também não faça. O que não sei se faço é o que ele me faz.

Registro aqui meu depoimento suspeito de uma amante de bons abraços, boas conversas e bons tempos gastos: isso basta, isso vale a pena, isso me completa por hora.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Número dois - Lia

Costumava ser mais prática. Costumava ser mais esperta e mais rápida. Bem, pelo menos pensava ser. Agora, ando mais lentamente, às vezes, com freqüência considerável, eu paro. Estou parada agora. Estagnada no tempo. O movimento de fora me dá certas dores de cabeça e náuseas. Quero falar uma meia dúzia de palavrões e usar um deles para ir embora, de tal forma que não me procurem mais.
Meu nome é Lia. Simples, curto, prático – como eu era e deveria ainda ser. Mas não sou. Não mais. Infelizmente.
Não há volta, só há essa minha ida sem fim a lugar nenhum que só tem um nome próprio e estúpido que tomou minha mente. E aí eu descobri que debaixo do meu corpo tatuado existe um coração de verdade.
Pudera eu arrancá-lo, assim evitaria as lágrimas que borram minha maquiagem escura e que tornam distantes as peças do meu quebra cabeça. Pensei em pular da janela do meu quarto. Tão convidativo, mas ridículo demais. E sinto a situação ainda mais banal quando vejo que meus motivos são tolos. “Deveria só ir até a casa dele”- eu penso. Mas não posso, ou posso... Faria lá o que realmente queria e perderia a noção dos dias, das noites, do tempo...
“Ninguém notaria mesmo” – diziam meus pensamentos que tinham a maior cara de idiota que já vi na vida.
Quando dei por mim já estava dentro do táxi, depois dentro da casa dele e do quarto... e minutos depois ele estava dentro de mim. Não que eu não tivesse o hábito de fazer isso sempre, mas geralmente ocorria depois de uns goles e com um desconhecido qualquer. Mas com ele não poderia. Eu nunca me apaixonei antes e tinha asco de gente apaixonada. Ironia do destino, agora eu deito ao lado dele e não tiro os meus olhos pretos daqueles olhos azuis.
Ele levanta a acende um cigarro. Gosto da forma como ele debruça na janela para fumar. Gosto da forma como ele anda até o banheiro e liga o chuveiro. Chego de mansinho na porta, ele sorri. Segundos depois eu me entreguei de novo.
Passaram dias. Muitos até. Nenhum de nós saiu para fora daqueles três cômodos. Não ouvi as milhares de vezes que meu celular tocou, não vi o nascer e o pôr do sol. Não vi nada, só vi os grandes e profundos olhos azuis olhando para mim.

domingo, 11 de julho de 2010

Eu, de novo

Há tempos que venho adiando combinar novas letras para postar. Não falta a vontade e nem o assunto, porém. Pelo contrário, ainda tenho muito o que falar com esse meu ponto de vista egoísta que só vê meu próprio umbigo e nada mais. Não reclame você que lê, pois a intenção aqui é falar de mim de tal forma que possa vir a te envolver. E admito ter ficado bastante satisfeita nesses dias para trás quando me divertia sã em meio de bêbados conhecidos que elogiaram minha humilde tentativa de escrever textos razoáveis.
O momento é de festas e bebidas. Diferente dos meus companheiros de idade, eu não curto nem um e nem outro. Mentira, retiro. Talvez eu goste de festas para comer salgados e doces gostosos e exóticos, sem esquecer da melhor parte: enquanto como, eu assento num canto e vejo os vexames dos ”bebuns” de plantão. É, tenho pensamento de gordinha e cabeça de idosa. Festas geralmente não tocam meu tipo de música, exceto por Lady Gaga, que vem sendo a única unanimidade atual no meu top 10. Então, não danço (quase nada).
Mas mesmo com meu pensamento de gordinha, meus gostos e hábitos idosos, meu mau humor quase constante, minha bundinha flácida e a forma como não gosto de tudo que meus contemporâneos amam – incluindo praia, sol, cerveja e axé-, meu namorado ainda diz que sou uma das mais fáceis de lidar. Agradeço e aprecio, claro.
E falando em namoro, digo que as coisas, surpreendentemente, têm estado divertidas. Continuamos com nossos momentos românticos em lugares estranhos como padarias, lanchonetes, livrarias e drogarias. Continuamos dependentes do telefone e ridiculamente babacas. Mas o que me espanta é a forma como isso ainda me diverte. Talvez sejam as partes menos românticas que tornam tudo menos monótono.
Os amassos no sofá da sala com o papai e a mamãe no quarto ao lado dão motivo para risadas; a forma como reservamos os melhores beijos para a despedida na porta de casa, para que possa ser um pouco mais quente, tendo certeza de que ninguém vai incomodar; o desejo absoluto que vem deixando meus neurônios de lado, ah, isso sim é resposta para diversão.
Contrabalanceando meus novos bons hábitos “de amor”, chega mais próximo de mim a responsabilidade do vestibular. Está pertinho, cada vez mais. Aguardo agora para repor as baterias nas férias e voltar para dar a alma aos livros.
Enquanto isso, persisto curtindo meus minutos com os amigos bêbados, com o namorado teimoso, com a família esquisita. Ninguém escapa, muito menos eu.

domingo, 20 de junho de 2010

O tempo que falta, mas não faz falta

Estranho é não ter tempo para nada e ter tempo só para dois ou três e estar mal cabendo em si de sorrisos. Sem tempo para escrever, sem tempo para a TV, sem tempo para sentir-se inconfortável com os comentários do pai, sem tempo para os filmes com a família na noite de domingo. Todo esse tempo é ocupado pelo telefone, pelos livros ou pelos beijos e abraços. Sendo o primeiro e os últimos um só responsável e o segundo uma obrigação necessária, mas não mais tão desagradável.
Minhas crises comigo mesma sem sentido nenhum aumentam a freqüência e eu fico feliz por isso. Talvez seja um sinal de que eu voltei a sentir o que estava guardado no baú dos temores. Mas fico triste também, não gosto das minhas crises e não sinto saudades dos meus tempos inseguros.
Eu sei que vai passar, sempre passa. Desde que permaneçam as saudades precoces, os arrepios, os sorrisos e os ciúmes. Quem liga quando paramos, eu e ele, ele e eu, no meio da padaria, ou da farmácia, ou da livraria e nos abraçamos como aqueles casais que acabaram de se conhecer. Não, nós não acabamos de nos conhecer e temos um passado que se opõe a tudo que acontece agora. Seria inimaginável, mas está cada vez mais real e agradável.
Na minha vida de pré-vestibulanda as coisas parecem caminhar bem. Acho que tenho andado por aí esse ano com amuletos da sorte, tamanha é essa boa fase que já vem durando uns meses.
Se tenho medo de que me vire e acabe num segundo? Sim, por que não? Já disse antes que é isso que torna tudo mais divertido.
Creio que preciso aperfeiçoar minha coragem de ser menos legal, porque talvez eu não seja tão legal assim. Mas acho que estou conseguindo contornar isso bem. Que eu diga atrasada, mas diga. E quando eu não digo, ou não faço, ou pareço indiferente ou irritada, não estou. Meu silêncio ou minha cara feia não diminuem o que sinto. Talvez seja uma tentativa burra da minha razão de afastar sei-lá-o-que.
Não sinto mais falta do meu tempo, estou começando a achar divertido o tempo que tenho que não é só meu. Sendo meu e dos meus pais, meu e dos meus amigos, meu e daquele com quem gasto horas no telefone, está tudo bem. É um bom momento, devo admitir.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dos ruins, dos inúteis

Estou numa lanchonete esperando dar duas da tarde. Rabisquei o canto de um papel que estava amassado na bolsa na tentativa de colocar as peças no lugar e conseguir escrever o que quer que fosse.
Agora escrevo sobre o que fiz, mas não há como escrever o que faço agora, pois faço agora o que está lendo aí na tela. Escrever sobre o que estou escrevendo é escrever sobre eu esta escrevendo o que estou escrevendo... (?)
Parei. Não há nexo nisso. Sobre o que eu iria falar mesmo? Entrei no círculo vicioso de escrever sobre o que estou escrevendo e me perdi.
É, não sei. Estou meio fora de órbita e penso que essas últimas linhas estão chatas. Não vou reescrevê-las, não penso em nada melhor por hora.
Falemos então que estou com as partes traseiras avantajadas em um banco estofado não tão macio. O suco light de goiaba acabou, e eu nem sequer queria suco de goiaba. Queria coca-cola, mas a dieta me obrigou ao contrário.
Toca no som de fundo uma das antigas dos Backstreet Boys. Colei figurinhas no álbum da Copa do Mundo: na linha, na ordem. Sim, metódica.
Estou insuportável esses dias, “aqueles” dias. Sinto dó dos que me cercam, mas quando vejo, meus hormônios falam por mim antes que eu o faça.
Acordei amando, logo acordei sorrindo. Porém, minha inconstância possibilita que pela tarde isso tenha mudado. Mas pela manhã seguinte ainda estarei amando. Ando amando... corro amando, durmo amando, beijo amando abraço amando, falo amando. Mas sei lá se é amor. Que acorde eu sempre gostando então. E viva gostando e beije o amado, abrace o amado...
Pareceu sem sentido? Para mim também. Encontro-me sem sentido por esses dias...

domingo, 16 de maio de 2010

Quebra de sigilo

Ando pensando mais sobre as reviravoltas da vida e devo isso ao que vem acontecendo comigo. Sinto uma nostalgia absurda invadindo meu presente cada vez que olho para aqueles olhos de novo. Tanto tempo depois e, agora, tanta coisa diferente. Diria que a essência é a mesma, mas enquanto pensava na frase que escreveria após esta, me dei conta que o que mudou foi exatamente a essência. E a justificativa, a mágica está justamente aí.
Ainda há aquele clima de volta ao passado, e pejorativamente talvez um clima de retrocesso.
Mas não é bem assim, não é tão simples. É como se um passado absurdo e confuso ainda estivesse entre nós na intimidade que temos devido a ele. Mas agora – e “por enquanto” (coloco as aspas levando em conta meu pessimismo que não me abandonará mais e que coloca essas palavras na minha boca toda vez que penso em algo bom e possivelmente passageiro, ou não, e ainda assim causando boas sensações) – a intimidade veio para o lado do bem, ou do mau, no meu caso.
A inversão de papéis é aparente, ou não. E escrevo tudo com tamanha incerteza, pois é mais que perceptível pra mim que há mudanças, mas também não há. Isso torna tudo mais real, mais prático e nem um pouco seguro. Impossível seria eu não me arriscar, visto que já perdi o medo de visitar situações muito piores que as anteriores. E não deixo de seguir tentando algo que muitos não entendem ou não perdoam. Penso que nada posso fazer por eles, faço agora por mim, por mim e só.
O medo que ele diz para que eu não tenha, mas que eu insisto em ter, não muda a satisfação de poder dormir com o moletom “roubado”. Ás vezes acordo à noite e sinto o cheirinho bom, dou um sorrisinho besta e volto a dormir. Tanto faz se acabar daqui a dois meses, dois dias ou duas horas, afinal já durou dois anos bem estranhos. E digo que tanto faz não com tom de desdém ou indiferença, digo apenas porque quero que dure somente enquanto me fizer bem como faz agora e como não me fazia antes.
Gosto quando me liga, me abraça, me beija e quando é chato – se fosse legal o tempo todo teria mais certeza de que estaria mentindo. Gosto da forma como se abre e fala sobre coisas que não entendo absolutamente nada – paciência de Jó para tentar me explicar. Eu gosto, gosto e pronto.
Se for ou não mentira, ou absurdo, ou impraticável, ou inaceitável, que seja! Já houve o que fosse verdade, sonho, praticável e aceitável e causou também sofrimento. Não vale evitar, perde toda a graça. O que vale é sempre uma chance, mais uma, duas ou três. Tendo um bom sorriso diário, um frio na barriga e um aconchego, tudo vale.
E ainda nos perguntamos: “quem diria que seria assim?”

sábado, 1 de maio de 2010

Para falar dos detalhes que ainda não contei - Os últimos detalhes

Atravessou a rua respirando fundo para controlar seja lá o que estivesse dentro dela. Ela sabia que era grande, grande demais para o que era o esperado. Ela estava com medo, e no caminho a vontade era assentar num degrau qualquer e abrir a válvula de escape para liberar aquilo que tomava conta dos dedos das mãos que abriam e fechavam sem parar, como se tentassem liberar a tensão pelas palmas das mãos; tomava conta dos olhos, que olhavam para o céu na esperança de que um ventinho ajudasse a manter o que tinha que ficar dentro, dentro.
Seguiu caminho e agora ela se assenta na frente da tela, busca o CD do A-ha na estante e entra novamente no mundo das tentativas.
"Não foi dessa vez... "
Tentar esquecer, tentar desviar a atenção, tentar descobrir a forma certa de dizer ou de não dizer. Mas ela prefere ficar calada, correr o risco de usar as palavras erradas de novo não parece uma boa opção. Ela fala pra ela a medida que escreve cada vez com mais freqüência.
Escreverá até entender; o que não foi possível ainda.
Porém ela sabe que certas coisas a gente não entende, a gente pensa que entende, mas no fundo a gente deixa passar e depois não se lembra porque não fez nada.

(09/04/2010)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Número um - A Velha

Dona Josefa era mulher religiosa e correta. Sua cara de má, rígida e durona, nada mais era do que o resultado da soma dos anos que passou num colégio interno de freiras mal humoradas, seguido dos anos que serviu no exército.
Seu único filho era bonito demais para ser fruto duma mulher daquela. Diziam as más línguas que o rapaz era filho de uma sobrinha bastarda da velha que, por engravidar ainda menina, abandonou a criança. Mas isso pouco importava.
Os sentidos que se aguçavam quando o moço passava impedia as fofocas sobre o passado. Era alto, atlético e com olhos tão azuis como o céu. Seu sorriso era como um labirinto sem fim no qual todas elas se perdiam sem querer; e depois de estarem lá dentro, elas sempre desejavam que ele estivesse.
Era o “filhinho da mamãe”, único motivo de orgulho e felicidade da velha rabugenta com perfume de lavanda. Formado em direito, serviu o exército por um ano ou dois. Nada de defeitos: nenhum boato, nenhuma garota ele fez mãe, nenhuma briga de rua. Andava para cima e para baixo com uma moça tão estonteante como ele. Dona Josefa voltava do interior mais cedo numa tarde de quinta-feira. Ela havia passado uns dias com as irmãs na cidade natal. Com a pose afetada pela idade, a velha andava vagarosamente até o portão de casa pela calçada molhada com pedacinhos de folhas queimadas pelo sol. Abriu o portão com uma delicadeza que normalmente não tinha em seus gestos, foi até a cozinha com seus passos lentos a procura do filho. Não achou. Ouviu barulhos estranhos, temeu algo. Resolveu adentrar o corredor com sua pistola na mão esquerda. A porta no fundo do corredor estava entreaberta; era do quarto da ranzinza que vinha os ruídos questionáveis.
Abriu a porta com tamanha rapidez que recordou dos bons tempos; teve a pupila dilatada, as mãos suadas, os pelos do corpo arrepiados e a boca trêmula: o filho era homossexual – e passivo, camaradas.
Numa adrenalina vinda dum baú não mais utilizado, a velha matou o homem que estava na parte de trás do filho no susto. Matou o filho. Olhou para a última bala e deu um tiro na cabeça. Quem conta a história, é a vizinha do lado que estava na janela se excitando com a fornicada dos rapazes e acabou presenciando miolos voando pelo quarto azul turquesa da velha. A mulher no auge de seus 45 e solteirona diz: “A dona não agüentou, talvez liberdade fosse algo com a qual ela nunca soube lidar.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Assumir o papel, vestir a carapuça

Nunca tive o hábito de sair lendo tudo que via por onde passava e acreditei que nunca conseguiria me doutrinar a isso, mesmo que desejasse ter certa sede pela leitura.
Não sei se foi uma vontade súbita, uma necessidade ou uma colher gigante que empurrou “leitura” goela abaixo devido à circunstância na qual me encontro – pré-vestibulandos precisam ler da mesma forma como precisam respirar. Acredito que tenha sido por curiosidade, criei o hábito de escrever e agora tenho que agüentar meu perfeccionismo atuando na minha escrita. Sendo assim, passei a buscar todo tipo de leitura, para ver se absorvo a forma como “os bons” escrevem. Comecei por diversão, agora leio até rótulos do xampu no banho.
Bem, mas o assunto não é esse. A questão do dia é que uma vez perdida nesse mundo das leituras, meus olhinhos se depararam com isso:
Você sabe que virou mulher quando consegue sair com um homem e:
1- não picotar o guardanapo do restaurante
2- não fazer desenhos com pequenos pedaços de palitinhos quebrados
3- não fazer bolinhas de miolo de pão
4- não falar de ex namorados
5- não falar da mãe
6- não falar sem parar
7- não escrever um texto sobre isso

(quase!)

Foi literalmente automático, como se ao final da leitura eu lesse “D-R-O-G-A”, vindo assim, uma letrinha de cada vez, como se meu cérebro digitasse para eu ler em voz alta.
Não é justo! Fiquei questionando se vale picotar o guardanapo e quebrar os palitinhos se isso é erro de fábrica da pessoa, mania mesmo, como é o meu caso. Falar dos ex-namorados é problema se o atual é também seu amigo e já sabia do ex antes dele ser o seu atual?
E falar da mãe é pecar contra meu amadurecimento feminino mesmo se a mãe ligar na hora e o assunto vier sem querer?
Falar sem parar, falar sem parar... isso é questão de nervosismo e dessa eu me safei (espero, cruzo os dedinhos e fecho os olhos).
Mas devo deixar minha indignação maior: como não escrever sobre os relacionamentos? “Acho que nunca serei mulher”, pensei instantaneamente.
Como não nos afogarmos em palavrinhas bem boladas e tentar eternizar da maneira mais bonita tudo aquilo que toma cada pedacinho do seu corpo, do seu dia e dos seus pensamentos?
Penso que quando estou apaixonada, até durante horário político em penso em corações pirulitando.
“Não vale!”
Pedir para que eu não aflore esse lado que torna as mulheres mais mulheres, é quase impossível. Afinal, qual é a graça de ter boas experiências e não poder lembrar-se delas para sempre? Não posso me dar ao luxo de confiar na memória – principalmente na minha memória. Além disso, é na escrita que podemos ser mulheres sem fingir que não somos tão mulherzinhas assim. Já basta termos que nos mostrarmos fortes, determinadas, inabaláveis e decididas em cada cantinho do mundo. Restam só as palavras para sermos 100% nós mesmas, com tudo de mais piegas, clichê e apaixonado. É assim que somos, bem “mulherzinhas”. A sociedade impôs o resto e nós adotamos por conveniência. Mas o escape faz bem.
Então, se para ser mulher tenho que deixar de escrever sobre meus casos, acasos e amores, abro mão. Continuarei escrevendo, fazendo o que nós, mulheres, fazemos melhor: sermos mulheres (de verdade).

sábado, 3 de abril de 2010

Para falar dos detalhes que ainda não contei – Parte II

Ela, aos poucos, começou a ansiar pelas noites na frente da tela, pela janelinha que subia no cantinho do lado direito. O modo de dizer “olá” sempre carinhoso e fácil, agradável aos olhos e aos dentes que não se continham escondidos atrás dos lábios. Era diferente; diferente dos indiferentes que a cercam no dia-a-dia. Engraçado, autêntico, sutil e com boas músicas para somar ao “top 100” dela. Cada vez mais surpresa ela ficava; cada dia um sorriso a mais arrancado com o jeito divertido, curioso e inteligente daquele rapaz escrever. Poderia ficar ali trocando dígitos por horas, descobrindo devagar os milhares de pontos em comum. Hábitos estranhos para a idade faziam parte do mundo dele como faziam do dela: o jogo de buraco, a pipoca doce, o sorvete com bolo, o café com biscoitos e uma mania incontrolável de escrever e pensar sobre tudo.
Tornou-se parte fundamental do dia, muita informação em pouco tempo. Vontade de contar da vida, “abrir o coração” sem medo, pedir ajuda ou conselho. Sem esforço algum ela conseguia ser real com ele, sem fingir, sendo apenas o que era, nem mais, nem menos, e só.
Ela não entendia tamanha conexão, mas ainda não se focava nisso. O foco ainda era bege e sem graça.
Um convite para um almoço no dia seguinte, antes de uma prova de física às duas.
Era uma quinta qualquer, um dia qualquer e um nervosismo pré-prova-de-física qualquer.
Terminou a aula, ela temeu que ele pudesse ter se esquecido do que haviam combinado na noite anterior. Ela tinha medo de que as palavras não fluíssem ao vivo como fluíam no virtual. O som, não mais a leitura...
Ele não se esqueceu; eles foram até a padaria e compraram o sanduíche. Assentaram na escadaria de uma academia que ficava ao lado. O papo esteve agradável como sempre, e mesmo com uma timidez levemente disfarçada, ela soube como deixar fluir aquelas horas por ali.
Meiaram fones e telefones; música e um SMS que ela riu e não entendeu.
Com o fim do horário de almoço, não poderia ser diferente, mas ainda assim foi surpreendente, o rapaz teve a gentileza de levá-la até o local da prova.
Ela fez a prova com tanta calma que, até hoje não sabe como, fechou a prova de física.

terça-feira, 30 de março de 2010

Sobre o tempo

Tempo, tempo, tempo...
Horas, minutos, dias, semanas, meses, anos, segundos. Cedo ou tarde, rápido ou devagar. É tudo uma questão de tempo. Maior subjetividade não existe.
Tempo é momento, distância, dinheiro. Ele para quando quer e corre de tal forma que às vezes torna-se difícil ver passar.
Ele vai e não volta, mas muda e lembra a gente do que passou de forma tão semelhante que parece uma viagem ao passado.
Escorre pelas mãos, cura a tristeza e aumenta a saudade.
Mas ele passa, nunca deixa de passar. E no centro dele, estamos nós, rodeados de gente que vira tempo. Tempo que fica, tempo que sai, tempo que muda, tempo que acaba, tempo que sorri, tempo que foge, tempo que gruda... tempo!
Meu tempo, seu tempo, nosso tempo: o meu que não é o seu, o seu que não é o meu e o nosso que não é o meu nem o seu, mas é outro, e é nosso.
Tempo de esperar, tempo de arriscar, tempo pra jogar fora. Perder tempo, ganhar tempo.
Tempo, tempo, tempo...


"Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio..."

domingo, 28 de março de 2010

Para falar dos detalhes que ainda não contei - Parte I

Ela estava perdida, mas parecia suficientemente segura de si. Final de ano, cansada dos livros e das mesmas pessoas de sempre. Intercalando os estudos – o suficiente para passar e só – com a tentativa de um novo relacionamento. Não era arrebatador, na verdade causava sono e tédio. Ela sabia que nunca daria certo, mas naquelas alturas ela já não tinha tantas fichas assim para apostar.
Foi com tudo, inclusive com a preguiça que contrabalanceava a vontade de experimentar algo novo. O gosto não era bom, mas também não era ruim. Sem graça, cor de bege com amarelo claro, bem clarinho.
Ela já sabia, nada de surpreendente.
Num sábado pela manhã, cansada de tanto bege, resolveu arriscar o pedido: “pai, tem festa hoje à tarde...” – o pai fez cara de reprovação e voz de durão, mas ela sabe que no final das contas ele sempre diz que sim.
Algumas roupas para fora do armário, cabelo molhado; sem idéia do que vestir, qual presente levar e uma falta de paciência considerável com o sacador que ela teria que enfrentar.
Roupa escolhida, cabelos secos, maquiagem leve, presente improvisado: “mãe, a roupa tá boa?”
“Ah, não! Coloca aquela!”
Raiva passageira, ela odeia quando a mãe não aprova as roupas depois de horas para efetivar a escolha. Tudo bem, havia a segunda opção.
Chegou cerca de uma hora e meia após o horário; atraso necessário. Cumprimentos, cumprimentos e um singelo parabéns. O sol perturbava naquela tarde, mas a coca-cola deixava as coisas um pouco mais fáceis.
Fofocas em dia, ela descobre o quão cedo teria que voltar para casa. Não faria o mínimo sentido ficar ali sozinha depois que as amigas fossem embora. Arrependeu-se por ter ido com uma das suas melhores roupas – “para tão pouco tempo!”. Porém, ainda passaria mais algumas horas ali, curtindo o som de um DJ absurdamente abraçável – ela sempre gostou dos cheinhos.
Pequena taxa de mau humor, um colega que não resiste a piadas desnecessárias e uma ou outra risada sincera.
Almoço ao som de forró – o ouvido agüenta, mas os pés não permitem nada mais além de uma balançadinha embaixo da mesa. Algumas pessoas novas, o calor ainda persistia. Um elogio duvidoso e divertido; uma risada sem graça e somada às sinceras. Hora de ir para casa.
Alguns dias depois, como de costume, ela gastava seu tempo na frente da tela do computador – nem ela mesma acredita no tempo que perde ali, vidrada. Achou, sem querer, o rapaz do elogio duvidoso nas bagunças do Orkut.
Deixou um “oi”, para não parecer mal educada, mas não tinha a mínima idéia de como se identificar. Pensou que deveria bastar o “oi”.
Alguns recados depois, o MSN “ganhou graça” dali pra frente. E o bege começou a sair de cena...

terça-feira, 9 de março de 2010

Monstro de 64 cabeças

A bola da vez chama-se Vestibular e, ao som de Alphaville (dessa vez não é “Forever Young” ), permito-me tocar nesse assunto que satura todas as minhas manhãs, minhas tardes, minhas noites e minhas madrugadas. Sim, isso tem me atormentado até enquanto durmo – ou não durmo por estar atormentada demais.
Comecei este ano sentindo a minha preparação insuficiente para encarar o monstrinho verde chamado Vestibular. Estou empurrando goela abaixo essa adaptação ao mesmo tempo em que vejo minhas olheiras crescerem cada vez mais.
Meu problema não é a escolha do curso, dessa eu me safei. Minha decisão é praticamente fixa desde a sexta série, quando as aulas de História me conquistaram. Com o tempo comecei a ver com mais clareza que minha vontade pela História não era só encanto, afinal, entro num museu e gasto mais sorrisos do que fazendo compras no shopping; acho um livro ou uma revista com aquele cheirinho de velharia, viro e reviro aquelas páginas com mais ansiedade e curiosidade do que ao comprar a Vogue do mês e querer logo chegar em casa para arrancar o plástico.
Mesmo relativamente tranqüila com a minha escolha, ainda é assustador assistir aulas de matemática, biologia e física e ver que muita coisa que pra mim sempre foi “x”, agora vira “y”, “sem quê nem pra quê”.
A maratona de aulas num combo “manhã e tarde”, impedem o soninho pós-almoço e obrigam o estudo da noite que eu sempre me recusei a executar.
A rotina muda, a cabeça muda. Todo mundo pira. É assim, não adianta tentar fugir. Agora é encarar a montanha de livros e preparar para gastar uma infinidade de grafites e borrachas.
Abraço a causa, ainda acredito na credibilidade de sacrifícios.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tão simples e tão complicado

Muitos arriscam, poucos petiscam. Falar de amor é uma coisa definitivamente complicada, mas não custa tentar.
Admito que fugi desse tema como o diabo foge da cruz, mas há tempos que frases soltas sobre isso vêm surgindo nos momentos mais variados - na aula de química, na casa da tia, no caminho para casa e antes de dormir. Não resisti e resolvi vencer o medo que tenho dessa palavra tão pequena, perversa, complicada, confusa e cheia de significado.
Confesso que meu medo de falar de amor vem das más experiências que tive com ele. Vale lembrar que o amor nem sempre é “uma dor que arde sem se ver”. Muitas vezes a gente vê e sente uma dor lá dentro, bem lá no fundo. Principalmente quando o amor não é correspondido, ou pior, é mentiroso, fingido e inimigo.
De acordo com aquele dicionário velho e empoeirado que eu fiz questão de tirar da estante (não, eu não olhei na internet), amor é afeto, paixão, entusiasmo.
Se amor é paixão, não é somente afeto, mas afeto violento, sentimento excessivo e cólera; se paixão é cólera e amor é paixão, amor também é agitação, raiva e arrebatamento. Arrebatamento! Excitação, furor súbito, precipitação, enlevo, êxtase.
Será mesmo que o frio na barriga, o arrepio atrás da nuca, o sorriso no canto da boca e o coração pulsando forte com um simples entrelaçar de dedos, braços ou línguas é simplesmente um estado de êxtase?
Se olharmos de rabo de olho o que os cientistas falam, veremos que o amor nada mais é que um conjunto de fenômenos cerebrais, ações de hormônios, sensações de prazer e memórias que associadas à alguém, gera o tal arrebatamento e as borboletas no estômago.
Pensar assim é no mínimo estranho, uma vez que, se o cérebro é nosso, a lógica é que nós tivéssemos o controle sobre ele, certo? Errado!
Você escolhe quem ama? Se acredita que sim, por que você ainda insiste em agüentar aquele cara mala, possessivo, ciumento e arrogante? Ah, claro, você não sabe. Eu sei e te digo: ele é o único que causa o êxtase. Então, quando ele te abraça forte, você esquece as grosserias e o papo chato dele e se entrega àquele bosta.
É, o amor é cego... surdo, mudo e burro. Ele corre de nós quando corremos atrás dele e nos atinge quando fugimos. Ele contamina, prostra e não dá a cura. Sim, ele é cruel; é harmônico, confuso e instável. Amor é instinto, é um beijo roubado num final de tarde, um sorriso no meio da multidão, um abraço apertado, uma noite sem dormir.
Quando tem cara de paixão, aperta, amarra, sufoca, enlouquece.
Quando tem cara de amizade, escuta, consola, perdoa, entende e não julga.
Amor pode respeitar ou não. Discorda? Se amor é instinto, ele não pensa ou fala, ele age. Pode iludir e doer, mas antes ele certamente dará aquele tempo bom, que não se limita, nunca.
Cabe lembrar que não há nada mais humano que o amor, ele é absurdamente errôneo e estúpido. Mas, há quem diga que amor é destino, prece e paz.
Se conhecemos e desejamos a paz, é porque temos o conhecimento da guerra. E sim, amor também é guerra. Uma infinita guerra verbal e parcial que geralmente não tem fim.
Amor é música, gosto e cheiro; é o sentir-se bem no silêncio; é largar o orgulho de lado e saber ceder; é equilíbrio, ou não.
E é por ser tão arriscado e impreciso que dá tanto medo. Mas em tudo que há desafio e desconhecido, há o desejo de tentar para alcançar.
Eu ainda tenho medo, cada vez maior, de me apaixonar; eu escuto mais a razão do que escutava há um ou dois anos atrás, mas estou nova demais para desistir do amor.
Se a esperança acaba, sobra o que? A juventude está se cansando fácil demais, temos que perder o medo do piegas, do clichê; cometer mais loucuras e arriscar mais. Virão lágrimas, elas são inevitáveis. Tudo passará e sobreviveremos, prometo!

“Amor é contentamento descontente; é dor que desatina sem doer; é estar-se preso por vontade; tão contrário a si é o mesmo amor.... Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.”

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não "super", mas pai

Em menos de um mês, recebi duas notícias semelhantes que, sem querer, colocaram meus neurônios para funcionar.
Há um pouco mais de uma semana, meu pai me diz que um amigo da nossa família tinha morrido no dia anterior. Ele tinha pouco mais de ciquenta anos e dois filhos: uma menina que faria 15 anos na semana seguinte e um filho de 18 anos.
Hoje, fui surpreendida com outra notícia do tipo. É o pai de uma colega muito querida de escola.
Fiquei pensando que ano passado também ocorreram coisas semelhantes não tão perto de mim e por isso, infelizmente, não pude ser tocada por tal situação.
Percebi enquanto voltava da escola conversando com o meu pai, que por mais que minhas brigas com ele fossem mais que frequentes, por mais que seus ideais sejam absolutamente radicais, por mais que ele seja muitas vezes arrogante, prepotente e estúpido comigo, eu prefiro chorar por ter tido a oportunidade de discutir com ele do que por não poder discutir nunca mais.
Soa clichê, certo? Mas estamos tão pouco acostumados a frases feitas quando o assunto é nossos pais, que isso se torna algo absolutamente novo.
Nós adolescentes temos a irritante mania de querer nos livrar dos pais o mais rápido possível, mas quando conseguimos isso, entramos aos prantos; pois não pense você que a garota dos quase quinze anos e o rapaz de dezoito não brigavam com o pai - e eles estavam em prantos.
Jovens são todos iguais, esse é o nosso problema. Quando um de nós resolve defender os pais, os outros julgam você estúpido. Sei exatamente como isso ocorre, sempre fui dessas que evita brigar com os pais - e ainda assim brigo muito. Meus amigos não entendem como posso aceitar as milhões de coisas que meu pai impõe. Felizmente ainda acredito que nada vale mais do que a quase boa convivência que temos; nada vale mais do que aqueles dias que tiramos para sair juntos, fazer compras, comer em um lugar bacana e fingir que somos namorados.
Falta para a nossa geração um pouco mais de gratidão, amor e disponibilidade para os nossos pais; falta mais dependência e menos arrogância.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Longe de casa

Achei o que eu procurava - e precisava. Um tempo só, eu e eu mesma, no meio do nada e sem distrações.
Não havia TV, nem internet, nem opções de passeios ou velhos conhecidos. Havia a piscina que eu não entrava, o sol que me incomodava, horários para comer, relaxar, dormir e acordar. Havia também tédio e um pequeno desconforto que passava rápido, pois os desconhecidos de lá são absurdamente simpáticos. Talvez eu que não estivesse muito interessada em colocar terceiros na minha relação comigo mesma que durou 5 longos dias.
Já de início a saudade começou a apertar. Senti falta do carinho da mãe, da implicância do pai, dos amigos de sempre, do urso campeão de debates, do Elvis Presley na parede e dos CD’s na estante.
Encontrava-me num quarto vazio e cheio de camas abarrotadas de roupas durante a tarde, a bateria do meu celular mal durava um dia inteiro e a coca-cola da cantina geralmente estava quente. Eu deveria ter fugido de lá, certo?
Mas não quis.
Foi difícil me esquivar, mas consegui ficar sozinha durante alguns momentos e valeu à pena. Meus pensamentos, meus sentimentos e minhas saudades que só aumentavam cada vez mais, me encararam e perguntaram o que eu faria com o “novo material” que eles me deram. Respondi jogando no papel uma vontade louca de chorar de saudade e de sorrir por não conseguir controlar isso.
Uns dias atrás, me perdi em um olhar e me preocupei por não conseguir evitar o sorriso que escapou sem querer e o calafrio que foi dos meus curtos cabelos até as minhas unhas sem esmalte do pé.
Usei os cinco longos dias praticamente na íntegra para pensar sobre isso, para permitir que parasse de tentar disfarçar.
Percebi que no meio do meu medo pelo monstro do Vestibular, das discussões com o pai e das idas na psicóloga, tem algo extremamente saudável que cresce cada dia mais aqui dentro. Acho que estou perdendo completamente as armas da razão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Minha pequena

Há dois e meio anos, minha vida mudou completamente. Não, não foram as drogas, ou a bebida ou a morte de um ente querido. Foi o surgimento de uma irmã.
Sim, é possível que depois de quase quinze anos meus pais cometessem a loucura de ter outro filho e eles sabiam o quanto seria difícil me contar a novidade.
Eu sempre fui daquelas filhas únicas que nunca quis um irmão - nem meio. Lembro que quando me perguntavam se tinha irmãos, eu sempre dizia com um imenso sorriso no rosto: "Não, graças a Deus" - e acreditem, muitas vezes até levantava as mãos para o céu. Além disso, sou bastante ciumenta e sabia que jamais conseguiria dividir minhas coisas. E para completar o pacote, eu nunca, nunca, nunca gostei de crianças - nem quando eu era uma criança. Então, imaginem só como foi a minha reação ao descobrir que minha mãe estava grávida.
Se me lembro bem, meu pai teve a boa vontade de ir me preparando fazendo algumas brincadeirinhas, mas não funcionou, porque eu realmente achava bastante improvável que minha mãe tivesse outro filho com quarenta anos de idade.
Mas teve.
E tudo ocorreu como eu esperava que fosse: meus pais me contaram e eu senti uma raiva tão grande que não se compara a nenhuma outra que tenha sentido até hoje; eu chorei a noite inteira de ódio; minha família ficou com medo que eu fugisse de casa e me mandou uma cesta de café da manhã; eu comecei a sentir ciúmes já na gravidez e claro, isso só piorou com o tempo.
Passados os nove meses, aquele ser humano em miniatura com cara de joelho chegou. Eu chorei no parto e chorei quando peguei a pequena Sarah pela primeira vez no colo - e não foi um choro de raiva dessa vez.
Desses dois anos e meio pra cá, aprendi a amar minha irmã, mas não aprendi a lidar com ela. Pior que isso, não aprendi a lidar com a minha vida depois da chegada dela.
Uma criança muda toda a rotina, todos os costumes e todas as conversas do encontro familiar de domingo. E isso cansa.
Querem saber? Se me perguntam eu tenho honestidade suficiente para dizer que sim, eu preferia quando não havia a pequena Sarah. Mas devo admitir que quando aquela pequenininha sorri pra mim, me abraça, me dá um beijinho na bochecha e chama meu nome, eu sinto uma paz imensa.
Quem sabe um dia eu aprenda a lidar com os quase 15 anos que nos separam. Por enquanto, continuarei sendo a irmã ciumenta que só brinca quando os pais não estão em casa.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Perigo: sonho

Sonhos são realmente perigosos.
A ideia de que você não tem o controle daquilo que deseja, que pensa e que sente pode se tornar perturbador, afinal, do que adianta controlar os impulsos e os desejos ocultos durante o dia se à noite todos eles aparecem sem que possamos fugir deles ou negá-los?

Isso atormenta, isso apavora e no meu caso, vem como um cutucão dizendo em alto e bom som: "Ei, você não manda nada!" - foi assim que me senti quando acordei às uma da tarde de hoje, com meu pai abrindo a porta e puxando meu cobertor.
Eu abri os olhos e infelizmente me lembrei do sonho, de tudo, inclusive de algumas malditas sensações. Por que os sonhos parecem tão reais às vezes?
Meus sonhos muitas vezes me fazem lembrar dos rostos, das vozes, dos cheiros e dos gostos que eu demorei meses, anos para esquecer. Tudo volta em algumas horas de sono agitado.
Fiquei mais uma meia hora na cama lembrando e questionando se eu realmente não tenho o controle. Será mesmo que nós, seres humanos, não podemos nunca manter certas vontades sempre ocultas? Mesmo quando elas são erradas, desnecessárias e até mesmo irritantes? Por que nossos sonhos insistem em nos mostrar aquilo que fazemos questão de esquecer?
Talvez seja um sinal de que não é hora de arquivar certas lembranças ou então é simplesmente uma peça que a nossa mente prega na gente.
O que importa é que levantei da cama e decidi que enquanto estiver acordada eu manterei o controle da mente, do corpo e, se possível, da alma.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Piloto automático

O tempo está passando rápido demais.
É possível lembrar como se fosse ontem, quando as férias pareciam longas demais, quando a madrugada passava devagar, quando a parte da tarde era o tempo mais que necessário para correr, brincar, estudar e ainda ver um pouco de TV.
Por que o tempo parece correr mais agora? O que de fato mudou nas nossas vidas?
O dia continua com 24h, as horas continuam com 60 minutos... então, por que nos perdemos tanto no tempo ultimamente? As horas parecem correr da gente.
Acordo às 10, tomo café, arrumo o quarto e quando olho já são duas da tarde.
Será por isso que as pessoas não param mais para nos responder a localização das ruas, o horário, ou simplesmente para nos dar um sorriso ou pedir licença?
Não que eu esteja fora do time dos “focados”, dos que não mudam a rotina nem para ajudar uma senhora com as compras, mas me pergunto até onde iremos nos tornando escravos do tempo.
A busca pelo o que é mais prático virou regra. Não nos entregamos a nada nem a ninguém para evitar uma possível perda de tempo futura; não andamos mais a pé, não agradecemos ao atendente da loja, não paramos nem ao menos para assentar e almoçar.
Há pressa para tudo: amar, ganhar, perder, ir, voltar, comer, ouvir, falar, escovar os dentes, lavar as mãos, dormir, acordar, pensar, agir, casar, separar, cozinhar, escrever e até mesmo relaxar.
E nisso perdemos as boas risadas, os bons amigos, as boas experiências, as boas oportunidades... perdemos o sentido real da palavra “viver”, que passa a significar somente nos manter vivos fisicamente, sem desejos, sem sonhos, sem vontades e só com obrigações e tarefas que passamos a exercer como robôs.
Perdemos a paixão, perdemos o frio na barriga, perdemos a vontade de tentar; ganhamos o comodismo, a praticidade e a segurança de que quando não há tentativa, não há também erro.
O que nos dá esperança é ver que ainda há aqueles que se recusam a acompanhar o ritmo geral e criam um ritmo pessoal.
Devemos às vezes jogar fora as armas da razão, correr o risco de errar e talvez sorrir um pouco mais e até mesmo chorar um pouco mais. Temos que nos empenhar em voltar a ser mais humanos.