terça-feira, 20 de julho de 2010

Número dois - Lia

Costumava ser mais prática. Costumava ser mais esperta e mais rápida. Bem, pelo menos pensava ser. Agora, ando mais lentamente, às vezes, com freqüência considerável, eu paro. Estou parada agora. Estagnada no tempo. O movimento de fora me dá certas dores de cabeça e náuseas. Quero falar uma meia dúzia de palavrões e usar um deles para ir embora, de tal forma que não me procurem mais.
Meu nome é Lia. Simples, curto, prático – como eu era e deveria ainda ser. Mas não sou. Não mais. Infelizmente.
Não há volta, só há essa minha ida sem fim a lugar nenhum que só tem um nome próprio e estúpido que tomou minha mente. E aí eu descobri que debaixo do meu corpo tatuado existe um coração de verdade.
Pudera eu arrancá-lo, assim evitaria as lágrimas que borram minha maquiagem escura e que tornam distantes as peças do meu quebra cabeça. Pensei em pular da janela do meu quarto. Tão convidativo, mas ridículo demais. E sinto a situação ainda mais banal quando vejo que meus motivos são tolos. “Deveria só ir até a casa dele”- eu penso. Mas não posso, ou posso... Faria lá o que realmente queria e perderia a noção dos dias, das noites, do tempo...
“Ninguém notaria mesmo” – diziam meus pensamentos que tinham a maior cara de idiota que já vi na vida.
Quando dei por mim já estava dentro do táxi, depois dentro da casa dele e do quarto... e minutos depois ele estava dentro de mim. Não que eu não tivesse o hábito de fazer isso sempre, mas geralmente ocorria depois de uns goles e com um desconhecido qualquer. Mas com ele não poderia. Eu nunca me apaixonei antes e tinha asco de gente apaixonada. Ironia do destino, agora eu deito ao lado dele e não tiro os meus olhos pretos daqueles olhos azuis.
Ele levanta a acende um cigarro. Gosto da forma como ele debruça na janela para fumar. Gosto da forma como ele anda até o banheiro e liga o chuveiro. Chego de mansinho na porta, ele sorri. Segundos depois eu me entreguei de novo.
Passaram dias. Muitos até. Nenhum de nós saiu para fora daqueles três cômodos. Não ouvi as milhares de vezes que meu celular tocou, não vi o nascer e o pôr do sol. Não vi nada, só vi os grandes e profundos olhos azuis olhando para mim.

3 comentários:

  1. so pra quebrar a "poesia"...Tá me traindo né?

    ResponderExcluir
  2. Oi, vi seu comentario la no meu blog, valeu :)
    fiquei feliz em saber que alguem lê porque realmente pensei que meu blog estava enterrado no baú da internet haiohaoihaiohaio
    fique a vontade lá, e lerei o seu tambem, um beijo!

    ResponderExcluir