segunda-feira, 12 de abril de 2010

Assumir o papel, vestir a carapuça

Nunca tive o hábito de sair lendo tudo que via por onde passava e acreditei que nunca conseguiria me doutrinar a isso, mesmo que desejasse ter certa sede pela leitura.
Não sei se foi uma vontade súbita, uma necessidade ou uma colher gigante que empurrou “leitura” goela abaixo devido à circunstância na qual me encontro – pré-vestibulandos precisam ler da mesma forma como precisam respirar. Acredito que tenha sido por curiosidade, criei o hábito de escrever e agora tenho que agüentar meu perfeccionismo atuando na minha escrita. Sendo assim, passei a buscar todo tipo de leitura, para ver se absorvo a forma como “os bons” escrevem. Comecei por diversão, agora leio até rótulos do xampu no banho.
Bem, mas o assunto não é esse. A questão do dia é que uma vez perdida nesse mundo das leituras, meus olhinhos se depararam com isso:
Você sabe que virou mulher quando consegue sair com um homem e:
1- não picotar o guardanapo do restaurante
2- não fazer desenhos com pequenos pedaços de palitinhos quebrados
3- não fazer bolinhas de miolo de pão
4- não falar de ex namorados
5- não falar da mãe
6- não falar sem parar
7- não escrever um texto sobre isso

(quase!)

Foi literalmente automático, como se ao final da leitura eu lesse “D-R-O-G-A”, vindo assim, uma letrinha de cada vez, como se meu cérebro digitasse para eu ler em voz alta.
Não é justo! Fiquei questionando se vale picotar o guardanapo e quebrar os palitinhos se isso é erro de fábrica da pessoa, mania mesmo, como é o meu caso. Falar dos ex-namorados é problema se o atual é também seu amigo e já sabia do ex antes dele ser o seu atual?
E falar da mãe é pecar contra meu amadurecimento feminino mesmo se a mãe ligar na hora e o assunto vier sem querer?
Falar sem parar, falar sem parar... isso é questão de nervosismo e dessa eu me safei (espero, cruzo os dedinhos e fecho os olhos).
Mas devo deixar minha indignação maior: como não escrever sobre os relacionamentos? “Acho que nunca serei mulher”, pensei instantaneamente.
Como não nos afogarmos em palavrinhas bem boladas e tentar eternizar da maneira mais bonita tudo aquilo que toma cada pedacinho do seu corpo, do seu dia e dos seus pensamentos?
Penso que quando estou apaixonada, até durante horário político em penso em corações pirulitando.
“Não vale!”
Pedir para que eu não aflore esse lado que torna as mulheres mais mulheres, é quase impossível. Afinal, qual é a graça de ter boas experiências e não poder lembrar-se delas para sempre? Não posso me dar ao luxo de confiar na memória – principalmente na minha memória. Além disso, é na escrita que podemos ser mulheres sem fingir que não somos tão mulherzinhas assim. Já basta termos que nos mostrarmos fortes, determinadas, inabaláveis e decididas em cada cantinho do mundo. Restam só as palavras para sermos 100% nós mesmas, com tudo de mais piegas, clichê e apaixonado. É assim que somos, bem “mulherzinhas”. A sociedade impôs o resto e nós adotamos por conveniência. Mas o escape faz bem.
Então, se para ser mulher tenho que deixar de escrever sobre meus casos, acasos e amores, abro mão. Continuarei escrevendo, fazendo o que nós, mulheres, fazemos melhor: sermos mulheres (de verdade).

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